Vai Montenegro acordar o PSD? Novo líder tem resultados históricos na votação (e na abstenção)

À terceira foi de vez: Montenegro conquistou o partido com mais votos do que o próprio Rui Rio havia conseguido nas últimas duas eleições. No discurso de vitória falou para o país, prometeu "oposição firme", mas não explicou como é que vai mobilizar 40% de abstencionistas.

"Isto vai mesmo valer a pena." É com esta frase que um sorridente Luís Montenegro galvaniza aqueles que fizeram questão de o acompanhar na grande noite tão ansiada há alguns anos: a chegada à cadeira de presidente do PSD. Mas vencer as eleições foi a parte fácil, o pior vem agora, mas Montenegro assegura estar preparado.

Primeiro, este é um desejo antigo. Ainda antes de serem conhecidos os resultados, um militante confiante dizia a outro, à porta do hotel que serviu de sede de campanha, que "desta vez é que é". E foi, como se previa. E esmagou a concorrência não deixando passar isso em branco no discurso de vitória que faria horas depois.

"Não vale a pena andarem a fazer contas... Este resultado, em número de votos, é superior a outros resultados de outras candidaturas quando houve mais do que um candidato e até quando houve um candidato só", diz Luís Montenegro que conseguiu levar mais de 19 mil pessoas a escolhê-lo para novo presidente do partido.

Na história recente, Rui Rio não conseguiu mais do que ele nas últimas duas eleições, apenas frente a Santana Lopes o superou no número de votos. No entanto, o que esta eleição também provou foi um partido adormecido com 39,5% dos militantes em condições de votar - com quotas pagas - a não irem às urnas.

"Quero dizer, porque gosto de ser frontal e leal, que se há um problema de abstenção nesta eleição não é com esta candidatura", responde Montenegro não respondendo à pergunta sobre como vai lidar com tanto militante que não quis saber da eleição.

De facto, o problema não é da candidatura que conseguiu mobilizar mais de 19 milhares de pessoas, mas é um problema para o presidente do PSD que confirmou a taxa mais alta da abstenção numas eleições diretas desde que elas existem no partido, ou seja, desde 2006.

E porque é que isto é importante? Porque Montenegro quer ser primeiro-ministro e porque só com os militantes motivados e participantes vai conseguir alcançar aquilo a que se propõe: "o princípio do fim da hegemonia do Partido Socialista".

Numa sala cheia de caras conhecidas do tempo de Pedro Passos Coelho, legado que muito honra Montenegro, o novo presidente do partido arrancou aplausos atrás de aplausos, fez agitar as bandeiras e prometeu ser "uma oposição firme, exigente e vigilante" para com António Costa e o PS que "governa e desgoverna Portugal".

Se durante a campanha interna já havia dito que estava "muitíssimo preparado" para chegar a São Bento, não o diz como é que fará para lá chegar. E chegar é uma palavra-chave porque: "e o Chega?"

"Nunca foi o meu tema de campanha, jamais seria o meu tema hoje à noite. Escusam de me perguntar sempre essa pergunta porque a minha resposta vai ser sempre esta", atira Montenegro com os decibéis a subir.

A verdade é que é ele quem tem na moção que não vai deixar o PS perpetuar-se no poder e, no Portugal atual, o partido de André Ventura não pode ser descartado, pelo menos de cenários. E mais uma prova de que o tema queima foi a reação da plateia que, sendo certo que ali estavam para festejar e celebrar o PSD, quando o assunto não agrada vai de apupar a pergunta dos jornalistas.

Ora, fica no ar o que fará com a abstenção e com um futuro Chega, mas não o que fará com a bancada. Ou quase. Salientando que já tinha falado com o líder parlamentar Paulo Mota Pinto, Montenegro sublinha que já para breve vai reunir com o presidente da bancada para orientar o futuro e a deixar a garantia de que usará o gabinete que terá na Assembleia da República. "Só não estarei na sala das sessões", diz.

E com Rio? Bem, essa transição de pasta acontecerá de forma discreta: "Vai se articular à moda dos homens bons, conversando uns com os outros".

Resta ainda um outro nome - o de Jorge Moreira da Silva. "Trata-se de um quadro altamente qualificado, de um político e de um amigo, com capacidade de servir o partido e o país. Não vamos prescindir do seu talento e daqueles que o apoiaram nestas eleições", nota Montenegro sem revelar o que tem pensado para o oponente.

Certo é que esta foi a noite que Luís Montenegro já esperava há muito e, finalmente, alcançou. Juntou os seus que juntaram muitos outros, agradeceu ao partido, família e amigos. Sempre sorridente, emocionou-se ao lembrar o pai e o irmão, mostrou que está com energia para começar a trabalhar, mas o difícil vem agora que já confirmou que vai mesmo andar por aqui.

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