Especialista em Política Internacional antevê um pedido do adiamento da data da saída do Reino Unido da União Europeia e analisa o cinismo de Corbyn.
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O cenário mais provável para o Brexit é o de que seja adiada a data de saída da União Europeia. Quem o explica à TSF é Leonídio Paulo Ferreira, subdiretor do Diário de Notícias e especialista em Política Internacional.
"O bloco conservador, que desde o início tem feito a vida negra a Theresa May, recusando qualquer tipo de acordo com a UE para a saída do Reino Unido - um Brexit negociado - foi coerente. O que temos agora é mais uma sucessão previsível de votos. Se a coerência dos vários lados se mantiver, o Reino Unido vai ter que pedir um adiamento na aplicação do Artigo 50 e vai ter que negociar mais prolongadamente um eventual Brexit, que já não será a 29 de março como está previsto. Eventualmente, tendo em conta que pode trazer uma alteração das forças políticas no Reino Unido, pode haver um segundo referendo e mesmo a revisão completa do processo do Brexit", explica Leonídio Paulo Ferreira.
Caso seja este o caminho, explica o especialista, "significa que se esteve a perder tempo com uma negociação. Pelos vistos, quem defendeu o referendo não defendia o Brexit, quem teve que negociar o Brexit não queria o Brexit e, no final, há uma grande probabilidade deste Brexit não acontecer. O que é mais surpreendente aqui é que, do lado dos 27 e da União Europeia, sempre houve uma atitude muito mais compreensiva e mais dialogante do que seria de esperar perante este divórcio."
Perante esta nova derrota de Theresa May, o líder da oposição, Jeremy Corbyn, já pediu eleições no Reino Unido. Leonídio Paulo Ferreira considera que o líder dos trabalhistas só pensa em assumir o poder.
"Corbyn tem sido uma figura que tem tido uma atitude muito cínica em todo este processo. Não se sabe se ele é, realmente, muito europeísta. Sabe-se que, neste momento, ele não quer uma saída sem acordo. Sabe-se também que, muito pressionado pelo eleitorado trabalhista, admitiu finalmente a possibilidade de apoiar um segundo referendo, se houver vontade política mais generalizada para isso. Acontece é que ele neste momento insiste, mais uma vez, em eleições antecipadas. É verdade que isso pode ajudar a esclarecer um pouco o terreno político no Reino Unido e permitir que, um Parlamento definido mais claramente em relação ao que fazer com a Europa, seja eleito. Dá-me a sensação que continua o cinismo de Corbyn, que está sobretudo interessado em chegar ao poder no Reino Unido", refere.
A Câmara dos Comuns chumbou, esta terça-feira, o novo acordo do Brexit, com 242 votos a favor e 391 contra. Uma diferença de 149 votos. Perante este chumbo, May quer agora saber, já esta quarta-feira, se os deputados aceitam um Brexit sem acordo.
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