João Pedro Simões Dias, especialista em questões europeias, diz à TSF que a decisão de tributar os depósitos bancários no Chipre é «inqualificável», «preocupante» e «grave».
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Na opinião de João Pedro Simões Dias, a decisão inédita da União Europeia (UE) de impor uma taxa sobre os depósitos bancários no Chipre, em troca do resgate financeiro, coloca em causa a confiança dos cidadãos nos bancos.
Em declarações à TSF, o especialista em assuntos europeus, diz que a decisão da UE é «inqualificável», «preocupante» e «grave» e teme pelo impacto que possa ter nas restantes economias da zona euro.
Uma analista económica especialista no Chipre, ouvida pela agência noticiosa francesa AFP, considera que «as consequências podem permanecer no longo prazo».
Segundo acrescentou, «os serviços financeiros e comerciais são os únicos setores que geram emprego e receitas fiscais», e estes arriscam-se a sofrer uma dupla penalização, tanto por via da taxa sobre os depósitos bancários como pelo aumento do IRC.
Para o vice-presidente do instituto de especialistas em contas públicas, Marios Skandalis, «existe um risco real que isto seja uma sentença de morte do Chipre como centro financeiro e centro de confiança».
Estas medidas, disse o especialista, «afetam um setor muito importante da economia cipriota e acabará por ter um efeito negativo sobre o PIB», lembrando que em causa está também «uma importante fonte de receita» do Estado cipriota.
Hubert Faustmann, um analista político alemão no Chipre, considera que esta tributação dos depósitos é, no fundo, uma experiencia, com benefícios e consequências imprevisíveis, e que se por um lado vão agradar a opinião pública alemã porque obrigam aqueles que têm beneficiado do estatuto de paraíso fiscal da ilha para pagar menos impostos e para lavagem de dinheiro a pagar o que devem, também terão graves consequências para a população.
«Estas medidas também vão afetar toda a população e podem matar a economia da ilha», afirmou.
O economista George Thecharides, numa entrevista ao canal TV Sigma, considera que «as consequências não são apenas más para o Chipre, mas também para outros países da zona do euro», disse.
No entanto, a opinião dos analistas sobre o sentido da votação no parlamento sobre o resgate e as medidas que este implica vai no mesmo sentido. «Eles não podem alterar o texto. É um voto a favor ou contra, e votar contra, significa a falência», disse Hubert Faustmann.
Os países da zona euro obrigaram o regime de Nicósia a instaurar uma taxa excecional de 6,75% sobre todos os depósitos com valores inferiores a 100 mil euros, e de 9,9% para os depósitos que excedem os 100 mil euros, retendo ainda os juros que normalmente seriam pagos por estas aplicações.
O Chipre aceitou ainda aumentar o imposto sobre as empresas de 10 para 12,5%.
Os ativos bancários no Chipre são oito vezes maiores que o Produto Interno Bruto do país, onde estão instaladas muitas sociedades 'off-shore', que têm beneficiado do baixo nível de impostos.