França/Presidenciais: Hollande vai pôr os países do sul no eixo das decisões da Europa, diz luso eleito socialista
Hermano Sanches Ruivo, vereador socialista na câmara de Paris, considera que o candidato do PS às presidenciais francesas tem «a solução para que o motor Europa arranque» e pretende renegociar o eixo franco-alemão, alargando a dinâmica aos países do sul.
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François Hollande, de 57 anos, foi dirigente do partido de Sanchez Ruivo durante mais de uma década e é um dos favoritos na primeira volta das presidenciais do próximo domingo contra o actual chefe de Estado, Nicolas Sarkozy, recandidato ao lugar.
Hollande entrou em campanha com o slogan «A mudança é agora» e o luso eleito Hermano Sanches Ruivo explica que tudo tem a ver com a perspectiva da evolução da sociedade. «O aspeto humano e social tem que ser a parte principal dos nossos desafios, das nossas tarefas. O poder económico e essa sociedade liberal -- da imaginação à implementação -- chegaram ao seu limite», afirmou.
«Em vez de sermos escravos de um sistema que funciona por ele próprio, e que tem regras insuficientes, vamos atingir objectivos sociais - em termos de educação, em relação à juventude, aos idosos, aos desempregados, aos trabalhadores - colocando a questão de como o sistema pode ser útil ao ser humano, e não o ser humano ser útil ao sistema», acrescentou.
O candidato socialista promete uma reforma fiscal para introduzir «mais igualdade» na sociedade francesa e defende a «retoma do crescimento na Europa». A direita do Presidente recandidato acusa-o de falta de experiência governativa e de ter «uma certa dificuldade em tomar decisões».
O autarca refuta essas acusações, diz que François Hollande tem uma «grande capacidade de gerar consensos» e que «é por isso que representa as esperanças de uma grande parte desta sociedade». Ele consegue, acredita, «convencer pessoas de esquerda e de direita a estarem unidas sobre um projecto».
Hermano Sanches Ruivo acusa o Presidente cessante de ter «hiperpersonalizado» a função que exerceu nos últimos cinco anos. E considera que isso está a ter um efeito negativo na campanha: «O sentimento que se tem agora é de que é preciso responder a um ataque pessoal antes de se defender uma ideia. E aí François Hollande também pode marcar uma diferença. Essa hiperpresidencialização é um erro que ele não quer continuar», explicou.
Na Europa, Hollande «criará uma imagem diferente». O autarca acredita que, eleito Presidente, o socialista irá bater-se por uma Europa mais equilibrada, desenhada num eixo que puxa os mais pobres para dentro, em vez de empurrá-los para fora.
«Existe uma absoluta necessidade de desenvolver uma ligação entre a França e os países do Sul, de reequilibrar o eixo das ligações. Ninguém vai dispensar o eixo França-Alemanha, mas ele tem que ser negociado. Essa é a solução para que o motor Europa arranque novamente», argumentou.
A respeito da comunidade portuguesa em França, que se estima que seja de mais de um milhão de pessoas, Hollande tem, «como os outros», muita estrada por caminhar.
Hollande «conhece» e «respeita» os portugueses, mas não lhes enviou uma mensagem directa: «Os franceses de origem portuguesa não têm o sentimento de que alguma coisa tenha sido dita especialmente para eles. Nem nesta candidatura nem nas outras», afirmou o autarca.
É aqui que entram os eleitos de origem portuguesa. Hermano Sanches Ruivo garante que já tem notas no seu caderno de encargos: ensino do português, memória, ligação da comunidade com o país de origem, e o envelhecimento das gerações que chegaram a França nos anos de 1960-80.
A primeira volta das eleições presidenciais em França realiza-se a 22 de Abril e a segunda a 06 de maio.