"Pagaram o preço mais alto." Guterres lamenta "profundamente" morte de trabalhadores da ONU em Gaza
Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente revelou que morreram 11 dos seus trabalhadores nos últimos quatros dias.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou esta quarta-feira que pelo menos 11 dos trabalhadores da organização que estão a trabalhar em Gaza tenham já "pagado o preço mais elevado" pelo apoio que estão a dar a civis na região.
"Perto de 220 mil palestinianos estão agora refugiados em 92 instalações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) em Gaza. Os funcionários estão a trabalhar 24 horas para apoiar o povo de Gaza e lamento profundamente que alguns dos meus colegas já tenham pagado preço mais elevado", disse Guterres, sem referir casos concretos.
Numa declaração de menos de dois minutos, o secretário-geral da ONU disse estar a acompanhar os "eventos dramáticos" na região e em contacto permanente com líderes regionais, mantendo esforços para que o conflito "não se alastre".
"Estou preocupado com a recente troca de tiros ao longo da Linha Azul [fronteira entre Israel e Líbano] e as informações sobre ataques a partir do sul do Líbano", indicou também, apelando para que os envolvidos "evitem qualquer escalada e alastramento" do conflito.
António Guterres apelou ainda, como já o tinha feito, à libertação imediata de todos os reféns e sublinhou a necessidade de respeito total e reiterado pelo direito humanitário internacional.
O ex-primeiro-ministro português pediu novamente que produtos cruciais para salvar vidas - incluindo combustíveis, alimentos e água - sejam autorizados a entrar em Gaza:
"Precisamos agora de acesso humanitário rápido e desimpedido. (...) Não há tempo a perder. Cada momento conta."
Mortes nos últimos quatro dias
Pelo menos 11 trabalhadores da UNRWA morreram nos últimos quatro dias na sequência dos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, informaram hoje fontes oficiais.
Entre os mortos estão cinco professores da UNRWA, um médico ginecologista, um engenheiro, um conselheiro psicológico e três elementos do pessoal de apoio, segundo um comunicado da agência da ONU.
Na nota informativa, a agência especificou ainda que, a par destas vítimas mortais, 30 estudantes da UNRWA - 17 raparigas e 13 rapazes - também morreram na sequência dos bombardeamentos conduzidos pelas forças israelitas no enclave palestiniano, controlado desde 2007 pelo movimento islamita Hamas.
Outros oito menores ficaram feridos, referiu a mesma fonte.
O comunicado da UNRWA lembrou ainda que, de acordo com o Ministério da Saúde local, pelo menos mil pessoas, incluindo quase 300 menores, "foram assassinadas" durante as incursões israelitas, enquanto mais de cinco mil pessoas ficaram feridas.
Entretanto, a Cruz Vermelha anunciou que cinco funcionários da rede da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) morreram esta quarta-feira.
Em comunicado, a FICV confirmou "a morte de cinco membros da rede em resultado das hostilidades armadas em Israel e na Faixa de Gaza", incluindo quatro socorristas.
A organização precisou que as mortes ocorreram quando ambulâncias foram atingidas.
Ainda na nota divulgada hoje, a UNRWA denunciou que, desde 7 de outubro (sábado) - quando o conflito eclodiu - registou danos "colaterais e diretos" em cerca de 20 das suas instalações, "incluindo escolas que abrigam civis deslocados que foram atingidos por ataques aéreos", além da sua sede em Gaza.
"Os edifícios das Nações Unidas, escolas e outras infraestruturas civis, incluindo as que abrigam famílias deslocadas, nunca devem ser atacadas", frisou a agência do sistema da ONU.
Ainda de acordo com a mesma fonte, pelo menos 264.000 pessoas encontram-se deslocadas dentro de Gaza e, desse total, 175.500 estão a refugiar-se em mais de 80 escolas da UNRWA na Faixa de Gaza, enquanto "muitas outras" estão à procura de abrigo em centros de saúde geridos pela agência da ONU.
"Os números continuam a aumentar à medida que os ataques aéreos israelitas continuam. Até agora, 16 pessoas refugiadas em duas escolas da UNRWA ficaram feridas, duas delas com gravidade, como resultado de ataques aéreos nas proximidades", disse a agência.
Também indicou que muitos dos abrigos estão lotados e "têm disponibilidade limitada de alimentos, outros itens básicos e água potável", num momento de bloqueio total imposto por Israel contra Gaza que, segundo a ONU, pode resultar numa catástrofe humanitária.
O Hamas lançou no sábado um ataque terrestre, marítimo e aéreo sem precedentes contra Israel a partir da Faixa de Gaza, na maior escalada do conflito israelo-palestiniano em décadas.
O ataque levou Israel a declarar o estado de guerra e a responder com bombardeamentos contra a Faixa de Gaza.
Desde então, o conflito provocou mais de 1.200 mortos do lado israelita e 1.055 em Gaza, segundo dados atualizados hoje pelas duas partes.
Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza e cortou o abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Todos os pontos de passagem de Gaza estão encerrados, o que impossibilita a entrada de combustível para a central elétrica ou para os geradores de que os residentes e os hospitais dependem.
A Faixa de Gaza tem cerca de 2,3 milhões de habitantes, sendo um dos territórios mais densamente povoados do mundo.
O Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).