Reportagem TSF na Argentina. Massa, o político camaleónico, contra Milei, o outsider louco
Chegou o dia dos argentinos escolherem o sucessor de Alberto Fernández. De um lado, o atual ministro de uma economia a colapsar, do outro um excêntrico com propostas com potencial catastrófico
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Sergio Massa descende de italianos - os pais nasceram mesmo em Itália - e Javier Milei também. O candidato governista foi guarda-redes na juventude, do Tigre, clube do coração, e o candidato libertário também, mas do Chacarita Juniors.
E pronto: terminam aqui as coincidências entre os dois concorrentes à sucessão de Alberto Fernández como presidente da Argentina.
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Massa é um político profissional, profissional demais, ao ponto de ser chamado de oportunista. Já foi autarca, deputado provincial, deputado nacional e líder da Câmara dos Deputados. Foi apoiante de Menem, de centro-direita, chefe de gabinete de Cristina Kirchner, de centro-esquerda, rompeu com ela, voltou para os braços dela, concorreu à presidência em 2015 mas perdeu e assumiu o ministério da Economia no ano passado com a inflação a bater nos 150% ao ano.
Massa é político. Ponto final, como resume o politólogo Carlos De Angelis, da Universidade de Buenos Aires.
"É um político de raça, alguém que permanentemente observa cenário, aliados e adversários ao mesmo tempo."
Mas se Massa muda ao sabor do vento, no fundo, está só a obedecer à doutrina do peronismo, a corrente política que se define, precisamente, por não ter doutrina, como assinala De Angelis.
"Com uma doutrina débil, o peronismo tem a vantagem de poder adaptar-se..."
Já Milei, ex-vocalista de banda rock e ex-intérprete de si mesmo na peça de teatro "O Consultório de Milei", chegou à política agora, seguindo os conselhos vindos do além, diz o próprio, do cão Conan, falecido em 2017. Na TV, as suas excentricidades destacaram-no dos demais economistas anti-Kirchner, anti-peronismo e anti-estado.
"Milei destaca-se por que tem opiniões de uma forma, com gritos e enfados, esteticamente diferente."
A que se segue, depois, um colossal apoio online da juventude ao discurso libertário e anarco-capitalista do estado zero.
"Essas opiniões ditas com agressividade, em vez de terem sido condenadas fizeram-no, pelo contrário, destacar-se dos demais economistas a TV, ao ponto de as suas formas serem replicadas depois por um exército espontâneo de jovens na internet."
A escolha dos argentinos é, pois, entre um outsider economista, no mínimo, excêntrico e um político de carreira, no mínimo, camaleónico.