O economista alemão Fabian Zuleeg, diretor do Centro de Política Europeia, tem acompanhado todo o processo do referendo e, numa entrevista à TSF, diz que a Escócia tem todas as condições políticas e económicas para se tornar independente.
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Fabian Zuleeg, doutorado em economia política pela Universidade de Edimburgo, acredita que a União Europeia (UE) acabará por abrir as portas à Escócia em caso de vitória do "sim". O diretor do Centro de Europeu de Política de Bruxelas entende que, apesar de todas incertezas, num processo sem precedentes, a Escócia já reúne todas as condições para se tornar independente.
«Não vejo porque não. Em muitas áreas a Escócia já leva a cabo a maioria das funções do Estado. E, na realidade, se escutarmos campanha pelo "não", irá até haver mais poderes para a Escócia», acredita Fabian Zuleeg.
Para o economista alemão, até um argumento aparentemente negativo, pode jogar a favor da independência da Escócia: «Alguns dos grandes bancos disseram que vão mudar a sede de Edimburgo para Londres. Mas, se a sede desses bancos se mudar para Inglaterra, então a responsabilidade de qualquer problema no setor bancário vai mudar-se para o Banco de Inglaterra, o que poderá ser uma forma de prevenir a Escócia de qualquer crise financeira».
Mas, acrescenta Fabian Zuleeg, uma independência bem sucedida pode trazer consequências para toda a Europa, «pode despoletar desenvolvimentos semelhantes noutros países. Veremos isso na Catalunha, onde têm havido grandes manifestações pela independência. Vai haver uma consulta não vinculativa em novembro, o qual muito provavelmente dará uma maioria pela independência».
No entanto, o especialista defende que a Catalunha não está nas mesmas condições de legitimidade para se tornar independente, pois o processo escocês «é constitucional e o outro não».
Fabian Zuleeg acredita, por isso, que em caso de vitória do "sim", a Escócia acabará por se tornar membro da União Europeia. «Temos de ver isto como uma negociação que no final será conduzida pelo interesse económico dos outros Estados, incluindo do resto do Reino Unido».
Por agora, o diretor do Centro de Europeu de Política de Bruxelas defende que a União Europeia não deve interferir no processo, mas no futuro deve abrir portas para a entrada da Escócia.
As mais recentes declarações de Durão Barroso sobre a Escócia foram registadas em fevereiro, numa entrevista à BBC em Londres. Barroso afirmava então que a Escócia seria travada pelos outros Estados-Membros da UE.
«Não quero interferir no referendo nem no debate democrático, mas, claro que será de extrema dificuldade conseguir a aprovação de todos os outros Estados-Membros para ter um novo membro, vindo de um Estado-Membro. Temos visto, por exemplo, que a Espanha se tem oposto até ao reconhecimento do Kosovo, por exemplo. É um caso relativamente semelhante, porque é um novo país. Por isso, acredito que será extremamente difícil, se não mesmo impossível, que um Estado, vindo de um dos nossos países, conseguir o acordo dos outros», afirmou Barroso em fevereiro.