Catarina Martins sobe o tom nas críticas à Europa e assinala linhas de orientação para o OE 2017. Cumprir acordo sobre salário mínimo e subir pensões mais baixas são objetivos.
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No primeiro dia de Convenção, e depois do resultado do referendo no Reino Unido, muitas foram as críticas por parte dos bloquistas ao rumo seguido pelos líderes europeus e, no segundo dia da X Convenção Nacional - e em dia de eleições em Espanha -, o Bloco de Esquerda (BE) quer ir além das críticas e marcar posição na discussão sobre o futuro da Europa.
O BE afasta o cenário de um referendo em Portugal, mas considera que o 'Brexit' foi a prova final do "colapso" da União Europeia (UE) e, nesse sentido, quer aproveitar o momento para dar continuidade à reflexão e fazer uma análise profunda do caminho seguido por Bruxelas - com o reforço de uma posição mais cética e um discurso que sublinhe os benefícios de um país com maior soberania.
Na ressaca do resultado no Reino Unido, Catarina Martins já tinha afirmado que o tempo é de uma "responsabilidade política dura" e de uma "necessidade de diálogo certamente difícil" e, na intervenção que encerra o encontro bloquista, a porta-voz do BE, seguindo a ideia já transmitida durante o primeiro dia, vai endurecer o discurso e dar alguns sinais ao Governo e ao Partido Socialista.
O tiro de partida foi dado por José Manuel Pureza: "Afirmar que só se pode ser socialista na UE, como fez o primeiro-ministro, é somar contradição a esse equívoco", disse o deputado do BE, depois de António Costa ter afirmado que "por vezes é difícil ser socialista no quadro da UE" e que "fora do quadro da UE é impossível ser socialista".
No encerramento do encontro, Catarina Martins vai subir o tom das críticas em relação à Europa, mas vai também quer esclarecer algumas das linhas essenciais com que os bloquistas querem avançar para a discussão do Orçamento do Estado para 2017 e, assim, dar conta daquelas que são as ambições do BE, com um conjunto de ideias que estabeleçam linhas de orientação política e que "realcem o acordo de maioria na perspetiva da legislatura", salientando que o acordo precisa de "exigência" e que o Bloco não vai recuar em nada do que foi acordado com António Costa.
A TSF sabe que, na intervenção, e tal como já tem sido sublinhado pela porta-voz do BE, Catarina Martins vai insistir na necessidade de o Executivo liderado por António Costa prosseguir com o aumento do salário mínimo nacional em 5% ao ano até aos 600 euros - isto num momento em que a Comissão Europeia e o BCE defendem que a medida tem de ser "monitorizada cuidadosamente - e colocar pressão no Governo para levar a cabo um aumento real das pensões mais baixas - uma das matérias ainda em discussão nos grupos de trabalho criados por BE e PS.
Do discurso de Catarina Martins deve ainda fazer parte uma referência ao investimento público, com o Bloco a defender mais investimento por parte do Estado, bem como a necessidade de colocar um ponto final nas rendas pagas a privados em setores como na saúde ou a energia - e, assim, dar força àquele que é um dos principais combates do BE, o de fazer reduzir significativamente os gastos considerados "excessivos" nos pagamentos a privados por serviços que podem ser assegurados pelo setor público.