"As outras datas todas foram importantes." Comemoração do 25 de Novembro divide políticos e historiadores
O presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, a militante do PS Ana Gomes e a historiadora Irene Pimentel partilharam as suas opiniões no Fórum TSF.
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Numa altura em que se discute se as comemorações do 25 de Abril deviam incluir o 25 de Novembro, Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, defende que essa é a data que deve ser comemorada porque foi aí que tudo começou.
"O 25 de Novembro foi essencial, mas como tinha sido essencial a vitória no 28 de Setembro e no 11 de Março para que o 25 de Abril se pudesse consumar e chegarmos à situação de podermos aprovar livremente no dia 2 de abril de 1976 a Constituição da República. Portanto, defendo que comemorar é o 25 de Abril. As outras datas todas foram importantes, acontecimentos importantes devem ser invocados, não devem ser esquecidos, mas em pergunto: porquê o 25 de Novembro apenas e não os outros?", questionou no Fórum TSF Vasco Lourenço.
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Já Ana Gomes, antiga embaixadora e militante do PS, defende que foram os socialistas - e não a direita - que tiveram um papel essencial no 25 de novembro e, por isso, o PS devia comemorar a data com orgulho.
"Temos de saber o que é história, temos de compreender o que é que foi este processo histórico e, portanto, não é possível. Não é possível obliviar o 25 de Novembro, não é possível escamotear o 25 de Novembro e o PS devia ser quem devia ter mais orgulho no papel absolutamente decisivo que a nível político teve, juntamente com o apoio aos militares que desencadearam a ação militar que travou essas forças que queriam, no fundo, conduzir o país para a ditadura", defende Ana Gomes.
Opinião contrária tem a historiadora Irene Pimentel, que considera que o 25 de novembro é uma data fraturante e propõe se faça uma reflexão antes de qualquer debate sobre se se deve comemorar o 25 de novembro.
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"Comemorar muitas vezes não é puxar pela memória, não é alimentar a memória. Muitas vezes é de forma populista, pura e simplesmente fazer um uso político ou uma apropriação política. Por isso proponho que se faça história. Que as pessoas antes de começarem a debater, se se deve comemorar, qual é a data mais importante ou menos, por aí fora, percebam o que é que foi o 25 de Novembro. E é verdade que o 25 de Novembro é uma data fraturante e estou muito de acordo com o general Eanes. Aliás, ele diz: "deve-se refletir", "deve-se lembrar para refletir". Eu diria até para fazer a história", aconselha Irene Pimentel.
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O tema da inclusão da operação militar do dia 25 de novembro de 1975 no programa oficial de comemorações parlamentares dos 50 anos da Revolução dos Cravos de 1974 surgiu na quarta-feira no período de declarações políticas no parlamento, com a Iniciativa Liberal a responsabilizar Augusto Santos Silva por não constar nessa programação.
O presidente da Assembleia da República tomou a palavra para insistir na ideia de que o programa oficial do Parlamento resultou de um consenso entre todos os partidos, que estão representados na comissão organizadora das comemorações parlamentares, presidida por si próprio, e que esta comissão "toma decisões por consenso", o que significa que "não havendo unanimidade, nenhum grupo parlamentar se opõe".
Santos Silva acrescentou que a comissão parlamentar organizadora "trabalha segundo as orientações que recebeu da conferência de líderes", que consensualizou as linhas orientadoras das comemorações e que o facto de o 25 de novembro não estar incluído não foi uma decisão sua.