Ataque ao ministro do Ambiente: "Podemos identificar ilegalidade, mas temos de compreender as causas"
O professor Viriato Soromenho Marques, da Universidade de Lisboa, considera que o ativismo mais radical em matéria de ambiente não tem dado resultado, e exemplo disso, é a "inação dos governos contra as alterações climáticas".
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Viriato Soromenho Marques tem escrito há décadas sobre o clima e ambiente e, questionado pela TSF sobre o ataque com tinta verde que três jovens ativistas protagonizaram esta terça-feira contra o ministro do Ambiente, o académico condena qualquer tipo de violência, mas diz que é preciso olhar para o que estar a levar os jovens a radicalizarem o protesto.
"Nós podemos identificar ilegalidade nos atos, mas não estamos dispensados de compreender a causalidade que leva a eles. É uma destrinça fundamental. O ponto de vista da legalidade não nos relata a análise da realidade", sublinha o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O académico pede que não se confunda a violência com outras ações de protesto a favor do clima: "Veja-se a quantidade de milhares e milhares de jovens que, em todo o mundo, têm ações relacionadas, por exemplo, com a limpeza das praias ou das florestas. Tudo isso são formas de participação na defesa da nossa casa comum, do nosso planeta."
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Quanto à ação dos governos perante a urgência climática, Viriato Soromenho Marques diz que tem havia muita inação. "As promessas, as estratégias, os objetivos não são cumpridos, o que provoca uma situação de progressiva descrença, que leva a um caminho de progressiva veemência que se aproxima de formas mais radicais e com algum grau de violência de protesto."
Os protestos pelo clima têm acontecido com maior incidência em outros países, como Grã-Bretanha, e não envolve só jovens. O também filósofo lembra o "Extinction Rebellion", um movimento que "envolve pessoas de todas as idades" e "muita gente do mundo académico", que tem praticado "atos de desobediência civil que suscitam violência, nomeadamente ações de paralisia de estradas e vias públicas".
Para que este cenário não se repita, Viriato Soromenho Marques, deixa um conselho: "Todos nós temos de prestar mais atenção ao que está a acontecer e entender que também nos diz respeito, independentemente de termos 20 anos ou cem."
O conselho segue especialmente para os governos que, segundo o académico, estão condicionados pelo sistema económico e por isso não agem.