Carneiro viabiliza PSD? "Não fiz essa afirmação. O que disse foi que comigo o Chega não vai para o poder"
Desafiado a esclarecer se permite que os social-democratas governem, ainda que de forma minoritária, para que o Chega não integre o executivo, José Luís Carneiro negou ter aberto a porta a esse cenário.
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O candidato à liderança do Partido Socialista e atual ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, vincou esta terça-feira que não permitirá que o Chega assuma um lugar de "poder" na governação do país, na sequência da polémica em torno das suas declarações sobre a possibilidade de viabilizar um Governo, ainda que minoritário, do PSD.
Questionado à margem de uma conferência organizada pela CNN Portugal sobre se está de facto disponível para permitir que os sociais-democratas governem, Carneiro rejeito a premissa: "Não fiz essa afirmação. O que disse foi que comigo o Chega não vai para o poder", apontou, prometendo explicar "no âmbito do debate partidário" o que quis "afirmar com isso".
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Numa entrevista à TVI no dia 12 de novembro, questionado sobre a possibilidade de viabilizar um Governo minoritário do PSD, José Luís Carneiro garantiu que não seria por si "que o Chega chega ao poder no nosso país".
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Esta posição de José Luís Carneiro levou Pedro Nuno Santos, seu adversário na corrida ao lugar de cargo de secretário-geral do PS, a desafiá-lo a concentrar-se "no combate à direita" e a comentar que consigo os socialistas não serão "muleta" do PSD.
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"Nós estamos concentrados exclusivamente em derrotar a direita e o PSD e é nesse cenário que trabalhamos", sublinhou Pedro Nuno Santos no último fim de semana, procurando demarcar-se da abertura de José Luís Carneiro face aos social-democratas.
A resposta chegou apenas horas depois, com Carneiro a dizer não aceitar lições de como combater a direita e a frisar que iniciou a sua vida política a derrotar a direita ao "ganhar precisamente uma câmara ao PSD".
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"Derrotei o PSD, derrotei na altura o CDS e tornei-me um dos mais jovens presidentes de câmara do país, portanto, não aceito lições de como se deve combater a direita", disse o socialista à entrada para um encontro com militantes, no Porto.
O socialista referia-se ao facto de ter ganhado, em 2005, as eleições autárquicas em Baião, no distrito do Porto, pelo PS, interrompendo a governação social-democrata naquela câmara municipal.
Depois desta troca de argumentos, já nesta segunda-feira, a socialista Maria da Luz Rosinha, que faz parte da coordenação da campanha de José Luís Carneiro às eleições para secretário-geral do PS, garantiu no Fórum TSF que não está nos planos dos socialistas viabilizar um Governo do PSD.
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"Já nos aconteceu a todos dizermos coisas e depois, quando acabamos de as dizer, percebemos que não devíamos ter dito aquilo exatamente assim, se calhar era melhor explicar. Aliás, já temos visto figuras muito importantes que voltam no momento a seguir atrás para traduzir o que afinal queriam dizer. Não há dúvida nenhuma disto e falamos claramente: viabilizar um Governo do PSD não está no horizonte do Partido Socialista", disse.
Na tarde desta terça-feira, sem querer alongar-se no assunto, José Luís Carneiro acabou também por referir que "todos os partidos democráticos têm deveres para com a democracia" e avisou que o atual "quadro geopolítico e geoestratégico na Europa tem fatores de ameaça" a esta.
Nesse sentido, apelou à cooperação entre partidos - "estejam no poder ou na oposição" -, forças da sociedade civil e cidadãos "para salvar os valores democráticos".
"É um entendimento que deve decorrer sempre no exercício das nossas funções políticas. Naturalmente os momentos eleitorais servem para que os partidos políticos possam apresentar as suas propostas aos cidadãos, e os cidadãos devem fazer o seu escrutínio, conhecer os programas eleitorais e fazem as suas escolhas. Após as eleições, os partidos devem ter momentos de divergência, de clivagem, mas também devem ser convocados para a convergência que serve o país e serve a sociedade", algo que diz não significar "que os partidos políticos percam a sua identidade", mas sim que devem "cooperar no que é relevante para o país e para a vida nacional".