Deco: Novos certificados de aforro são "mau sinal para a poupança" e não interessam aos bancos
A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor defende que, com a nova série de títulos da dívida pública, o Governo desincentiva bancos a remunerar melhor os depósitos a prazo.
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Na opinião da Deco, os bancos não estão muito interessados em vender certificados de aforro. A defesa do consumidor adianta à TSF que, de acordo com as informações que recolheu, ainda nenhum banco se chegou à frente para ter estes títulos de dívida pública nos balcões físicos e digitais.
"É positivo para os consumidores, porque há mais pontos de venda ao consumidor. Mas não sei até que ponto os bancos estarão interessados em comercializar o principal concorrente dos depósitos que têm. Segundo a informação que tenho, neste momento ainda não há nenhum banco que se tenha chegado à frente para comercializar estes novos certificados de aforro. É provável que surjam alguns bancos, mas não sei se será uma medida assim tão popular", antevê António Ribeiro, analista financeiro da Deco.
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A associação não tem dúvidas de que a baixa nas taxas de juros nesta nova série de certificados de aforro é um mau sinal para quem poupa. "É um mau sinal para a poupança. A poupança está nos níveis mais baixos desde o início do século. A taxa de poupança está à volta dos 6,1% e assim o consumidor perde não só o rendimento de 3,5% que existia na série anterior, mas perde também o principal motor que estava a pressionar os bancos a subir as taxas", assinala o analista.
António Ribeiro sublinha que esta decisão tem ainda um outro impacto. "É preciso não esquecer o papel dos certificados de aforro no incentivo à poupança dos particulares. E, mais do que nunca, hoje era necessário esse incentivo porque a maior parte da população não tem poupanças de curto e médio prazo, os chamados fundos de emergência, para eventualidades".
A portaria do Governo que cria esta nova série, a série F de certificados de aforro, foi publicada na sexta-feira e entra em vigor esta segunda-feira. Mas o documento não tem mais detalhes sobre o que é que os bancos têm de fazer para disponibilizar estes certificados.
Questionada esta manhã pela TSF, a Associação Portuguesa de Bancos já garantiu que "os bancos não tiveram conhecimento prévio, quer da decisão sobre os certificados de aforro, quer do pretendido envolvimento dos bancos na sua venda". A associação assegura ainda que "conhecidas que forem as condições para esse envolvimento, cada banco procederá à sua análise e decidirá por si".