Nova série de certificados de aforro "vai aumentar perceção de injustiça" da classe média
A substituição da série E pela série F nos certificados de aforro subiu a debate no programa O Princípio da Incerteza. Alexandra Leitão diz "não compreender" esta medida do Governo. Já Lobo Xavier fala em "pura racionalidade" e Pacheco Pereira considera que há uma "função de distribuição" das receitas.
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A nova série de certificados de aforro começa a ser comercializada esta segunda-feira. O Governo decidiu suspender a série E, que tinha uma taxa de juro de 3,5%, e substituiu-a pela série F, com uma remuneração mais baixa, de 2,5%. No programa da TSF e da CNN Portugal O Princípio da Incerteza, a deputada socialista Alexandra Leitão sublinha que a medida do Governo aumenta a perceção de injustiça, sobretudo, da classe média.
"É um produto claramente dirigido a um certo tipo de classe média, que é aquela que mais vezes se sente injustiçada, porque nem recebe aqueles apoios um pouco mais assistencialistas que têm sido muito importantes para garantir que não se cai e que se reduz a pobreza. Parece-me que, para esta classe, esta medida vai aumentar essa perceção de injustiça", defende Alexandra Leitão, confessando que "não compreende muito bem a medida".
"Ouvi com toda a atenção o senhor secretário de Estado, que explicou que havia uma racionalidade financeira. O timing não foi o melhor, porque ainda por cima vem na sequência de algumas declarações. Acho que é um exemplo de uma medida que, francamente, não ajuda a esta ideia de perceção que há sempre aqui uma classe que não é suficientemente pobre para receber um conjunto de apoios e também não é tão rica para passar incólume às situações", sublinha.
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Além de serem vendidos pelos CTT, Espaços Cidadão e canal AforroNet, os certificados de aforro vão ser também comercializados pelos bancos.
António Lobo Xavier defende que a decisão do Executivo em substituir a série E pela F, alterando algumas das contrapartidas, nomeadamente, a baixa do juro, faz sentido, porque os bancos sabem que, mesmo baixando a rentabilidade deste produto, ele vai continuar a ser vendido, uma vez que o juro é superior ao das contas de depósito a prazo dos bancos.
"É bom que os agentes económicos se movam por racionalidade, incluindo o Estado. A razão pela qual o Estado vai reduzir o pagamento aos certificados de aforro é pura racionalidade. É porque se ele tem o mesmo a preços mais baixos, ele vai conseguir que as pessoas subscrevam certificados de aforro a um preço mais baixo e, portanto, se estiver a pagá-lo mais alto, está a redistribuir dos contribuintes para o bolso dos aforradores que compram certificados de aforro. Não sou contra políticas de apoio ao aforro, mas porque é que há de ser os certificados?", questiona.
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"O tema dos certificados de aforro é este: não faz sentido pedir a um agente económico que pague mais do que precisa por aquilo que tem de qualquer forma, não faz sentido, temos que nos habituar a isto", atira.
Esta é uma ideia partilhada por José Pacheco Pereira. O historiador diz que o Estado está a fazer uma redistribuição de receitas e os certificados de aforro são um exemplo.
"A função de distribuição num país pobre, em que muita gente vive mal e em que a classe média sofreu e tem sofrido uma crise significativa nos seus rendimentos é uma função de distribuição que o Estado tem obrigação de fazer", considera.
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