Liberais defendem que a realização de uma reunião prévia "viola a tal ética republicana de que o senhor primeiro-ministro gosta tanto de falar" e que é preciso saber se há deputados que participaram no encontro e estão agora a participar na Comissão Parlamentar de Inquérito.
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A Iniciativa Liberal quer ter acesso a todos os e-mails e notas de calendário trocados entre a bancada socialista e os Ministérios dos Assuntos Parlamentares e das Infraestruturas sobre reuniões de preparação das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP com a ex-presidente executiva da empresa.
O deputado Bernardo Blanco, que ontem revelou na inquirição da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, a existência de reuniões preparatórias que juntavam gabinetes do Governo e do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, anunciou esta quarta-feira que o requerimento liberal já deu entrada na comissão.
"O escrutínio tem de ser feito nesta casa, sem combinações prévias de qualquer tipo. Nós consideramos que isso viola a tal ética republicana de que o senhor primeiro-ministro gosta tanto de falar", lançou o parlamentar.
Segundo a CEO da TAP, a recomendação da reunião partiu do Ministério das Infraestruturas, na altura já liderado por João Galamba, mas, segundo a IL, a convocatória formal foi feita pelo Ministério dos Assuntos Parlamentares.
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A IL quer agora acesso a todas as "comunicações, e-mails e notas de calendário entre o Ministério das Infraestruturas, o Ministério dos Assuntos Parlamentares e, obviamente, a TAP" para saber "quem é que pediu esta reunião, quem é que a organizou e a lista, não só de todos os convocados, mas também de todos os participantes".
O partido quer saber quem foram os deputados socialistas que participaram na reunião por considerar que, se estiverem na CPI, "há aqui um conflito de interesses e tem de ser analisado se podem continuar na comissão ou não, tendo em conta esta reunião que tiveram".
A Iniciativa Liberal desafia também o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva a, "no mínimo, comentar" as informações sobre esta reunião e o facto de o PS ter vindo a público dizer que este procedimento é habitual.
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"Podia se calhar, no mínimo, comentar estas afirmações de isto ser normal, porque parece-me que se isto é normal, então temos aqui uma democracia um pouco falseada, não é?", lançou Bernardo Blanco, defendendo que se as audições "servem exatamente para escrutinar, não é para haver reuniões no dia anterior onde se partilha informação".
O deputado defende que, neste caso, o escrutínio é "um pouco falseado porque já houve uma reunião preparatória" e aproveita até para afastar quaisquer dúvidas sobre o que possa ter acontecido: "O título do e-mail é mesmo 'Reunião preparatória da audição parlamentar'. Se houvesse dúvidas, está no título do evento."
Na audição de terça-feira, Christine Ourmières-Widener identificou o deputado e coordenador do PS na comissão de inquérito Carlos Pereira como um dos presentes naquela reunião de 17 de janeiro.
No final da audição, Carlos Pereira disse aos jornalistas que se trata de um procedimento natural "partilha de informação".