PS avisa Marcelo que decisões "têm de ser respeitadas" e relação com Costa não se baseia na "plena convergência"
João Torres defendeu em conferência de imprensa que as diferenças nas leituras políticas de Costa e Marcelo são sinal do "normal" funcionamento das instituições.
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O secretário-geral adjunto do PS, João Torres, defendeu esta quarta-feira como "normal que numa democracia e num regime democrático nem sempre exista uma concordância total e plena entre todos os agentes políticos e todos os órgãos de soberania" e avisou o Presidente da República que, segundo as regras, é importante que cada instituição respeite as decisões tomadas.
Numa comunicação na sede do PS sobre a crise política decorrente da manutenção de Galamba como ministro das Infraestruturas - uma decisão que Costa anunciou e da qual Marcelo disse discordar -, o dirigente socialista assinalou o respeito do partido por "todos os órgãos de soberania", mas avisou que "uma democracia com regime democrático tem regras" e é "importante que a cada um respeite as decisões que cada agente político pode e deve tomar".
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"O senhor primeiro-ministro tomou uma decisão que o próprio reconheceu que poderia não ir ao encontro da opinião de muitos dos comentadores políticos do nosso país, mas é uma decisão que tem toda a legitimidade e que está fundada na impossibilidade de imputarmos ao ministro das Infraestruturas acusações sérias e gravosas que lhe foram aportadas, mas que não têm correspondência com a realidade", defendeu.
João Torres notou que Costa, com "dignidade e responsabilidade institucional", pediu desculpas aos portugueses pelo "lamentável" episódio nas Infraestruturas numa "lógica de respeito recíproco entre todos os órgãos de soberania e todos os agentes políticos".
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"Quero com isto dizer que a relação entre o primeiro-ministro e o Presidente da República, que estou certo que os portugueses apreciam, não tem de se fundar numa plena convergência e concordância em todas as decisões e em todos os momentos", justificou, acrescentando que "aquilo a que se assistiu" esta terça-feira em São Bento "foi justamente ao normal funcionamento das instituições".
Questionado sobre se, sendo assim, as relações entre Costa e Marcelo se mantêm como estavam, João Torres respondeu que é "importante que, em cada momento, cada agente político possa assumir as suas responsabilidades e tomar as suas decisões em consciência".
Na mesma argumentação, o dirigente socialista enquadra a comunicação de Costa ao país - em que justificou a manutenção de Galamba - como uma "demonstração de grande lealdade institucional do primeiro-ministro para com o Presidente da República".
Marcelo "entendeu, no seu juízo, discordar publicamente dessa decisão. É normal em democracia e num regime democrático sólido que não exista, sempre e em permanência, sobre todas as matérias e assuntos, plena convergência entre um Presidente da República e um primeiro-ministro".
Na mesma conferência de imprensa, João Torres criticou também o que diz ser a "desorientação" do líder do PSD, Luís Montenegro, que defendeu esta manhã que António Costa quer eleições antecipadas.
"Percebe-se a desorientação da oposição e em particular do líder do PSD, Dr. Luís Montenegro. Mas percebe-se mais: a sua falta de preparação e a sua incapacidade para se apresentar como uma alternativa", atirou o dirigente socialista.
Para o PS, a "vacuidade do PSD ou a sua falta de sentido construtivo não é surpresa nem é novidade, é uma constatação que há muito os portugueses já fizeram".