Vítimas de Pedrógão Grande lamentam "fado do esquecimento", mas "aceitam" desculpas do Governo
No Fórum TSF, a presidente da Associação das Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande pede ao Governo que não se esqueça do interior.
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A presidente da Associação das Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande lamenta o "fado do esquecimento". O Governo faltou à homenagem que assinalou os seis anos desde os grandes fogos de 2017. Em declarações à TSF, no domingo, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, pediu desculpa aos familiares das vítimas e lamentou se esta ausência lhes causou dor.
No Fórum TSF desta segunda-feira, Dina Duarte ouviu o pedido de desculpas e aceitou.
"Foi com alguma perplexidade que ela falou comigo e eu obviamente aceitei o pedido de desculpas. Não há outra forma, seja como for aquele memorial já tinha sido visitado pela associação na entrega e na homenagem aos falecidos, em 2017. É um memorial que gera polémica até nesta sua não entrega oficial, porque a associação de vítimas expectava que houvesse uma entrega oficial. Aquilo que as Infraestruturas de Portugal fizeram foi entregar a obra e eventualmente não estiveram atentos às comunicações que as Infraestruturas de Portugal fizeram para os devidos ministérios ou, então, se calhar, era deixar que a questão do memorial caísse não no esquecimento, mas, de certa forma, houvesse aqui um descaso", considera.
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Dina Duarte garante que há promessas que foram feitas na sequência dos grandes incêndios em junho de 2017, mas muitas ainda não foram cumpridas. A presidente da Associação das Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande pede ao Governo que não se esqueça do interior.
"É isto o nosso grito de alerta: olhem, continuem a olhar por nós, não deixem de olhar porque muito pouco foi feito. Continuamos com as aldeias despovoadas, os nossos jovens, os nossos capacitados e os nossos qualificados têm que sair daqui para terem ordenados, ou para terem trabalho, ou terem ordenados mais qualificados. Este interior não pode ser só um 17 de junho ou um 15 de outubro de qualquer ano", atira.
Além da ausência dos governantes, também o Presidente da República não esteve presente nas cerimónias de homenagem às vítimas, mas Marcelo Rebelo de Sousa já fez saber que tenciona ir a Pedrógão Grande ainda este mês.
Dina Duarte ainda não conseguiu falar com o chefe de Estado.
"O senhor Presidente da República ligou-me ontem às 20h35. Eu não consegui atender a chamada, porque eu vivo num país onde viver numa aldeia em Castanheira de Pêra, em Pedrógão ou em Figueiró, é complicado, estou a aguardar que ele me contacte, porque eu devolvi a chamada três vezes. Percebo que o senhor Presidente da República não tem a minha vida, obviamente que está muito mais ocupado do que eu e quando ele puder irá devolver a chamada. Agora, as pessoas têm que perceber que não é só porque são convidadas que devem olhar para o 17 de junho ou para o 15 de outubro, deve-se efetivamente ter essa atenção", refere.
A presidente da associação de vítimas defende ainda que Portugal é o país dos "3 F's". "É o Portugal do fado, este fado do esquecimento e da vitimização e que não pode continuar, é o Portugal do futebol, porque é por causa do futebol que tudo é mais importante e este ano é o ano do F de Francisco. O resto é paisagem e eu não quero que isso aconteça", acrescenta.
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