"Não vamos esperar dez anos como o PPE." Socialistas admitem expulsão de populista eslovaco
PS e PSD trocam argumentos a propósito da vitória do socialista eslovaco Robert Fico, com discurso anti-europeu.
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Com críticas ao Partido Popular Europeu, o eurodeputado socialista Pedro Marques admitiu, esta terça-feira, em Estrasburgo, que o eslovaco Robert Fico pode vir a ser expulso da família socialista europeia.
Dando como exemplo o caso da expulsão de Viktor Orbán do Partido Popular Europeu, Pedro Marques garante que o processo não vai arrastar-se como aquele que foi conduzido pelo PPE, garantindo ainda que Robert Fico será "alvo de um processo" caso mantenha a retórica pró-russa e o discurso anti-europeu e contra o Estado de Direito que marcou a campanha eleitoral.
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Pedro Marques garante que, "no limite", o eslovaco que está prestes a voltar a liderar um Governo no seu país, pode vir a ser expulso da família política europeia à qual pertence o Partido Socialista. Uma linha vermelha seria uma coligação com a extrema-direita. Outra, transformar em ações políticas uma "retórica de campanha", marcada por um discurso que se distancia da política europeia relativamente à Ucrânia e que põe em causa o Estado de Direito.
"Se Robert Fico e o seu partido, agora, no contexto da formação de Governo, insistirem nesse caminho e começarem a governar dessa forma e, sobretudo, desde logo agora, já nos próximos dias, se ligarem, por exemplo, com a extrema-direita, o líder do nosso partido europeu já deixou muito claro que essa será a razão suficiente para abrir um processo de sanções, que no limite pode levar à expulsão", afirmou Pedro Marques à TSF.
Pedro Marques afirma que, ainda antes das eleições, o grupo político dos Socialistas e Democratas confrontou os dois membros do SMER, os socialistas eslovacos no Parlamento Europeu, partido de Robert Fico, para expressarem a preocupação face ao tom da campanha.
"Deixámos mensagens claras de preocupação com aquele tipo de retórica", frisou Pedro Marques, precisando que se trata de uma "retórica que afasta a ideia do apoio à Ucrânia no contexto da guerra de agressão russa" e uma "retórica populista e, em algumas áreas, resvalando para alguns toques nacionalistas, sobretudo questões de Estado de Direito e questões dos direitos das minorias, em particular das pessoas LGBT".
Sublinhando que "estes avisos foram lançados de forma clara", Pedro Marques afirma que os socialistas pretendem conduzir o processo de forma célere.
"Nós não vamos estar dez anos à espera que o Sr. Orbán se vá embora sozinho como esteve o PPE. Nós já dissemos - o nosso líder ao mais alto nível já disse - que se isto for implementado, iniciaremos um processo de sanções que pode, de facto, ter como uma das suas consequências a expulsão do SMER", afirmou.
Mas o social-democrata Paulo Rangel, que integra o Partido Popular Europeu, retribui a crítica, dizendo que foi a família socialista que "nada fez" perante um caso que se arrasta e "não é de agora".
"A desinformação na Eslováquia, a ligação com a Rússia, mas especialmente o ataque à comunicação social e a corrupção estão lá desde 2012, que foi quando foi eleito pela segunda vez Robert Fico e o SMER", salientou Rangel, acusando "o Partido Socialista Português e o Partido Socialista Europeu [que] nunca se demarcaram do SMER e de Robert Fico".
"Pelo menos há cinco anos, foi assassinado Ján Kuciak. Robert Fico teve que se demitir porque havia ligações diretas, comprovadas, do seu Governo e da administração ligadas aos escândalos de corrupção que estes jornalistas estavam a investigar e pelos quais ele e a sua companheira foram assassinados", é outro exemplo apontado por Paulo Rangel sobre a atuação imputada a Robert Fico, acusando a família socialista de que "há cinco anos" também "não fizeram nada".
"Nunca vimos um dirigente do PS, tirando Ana Gomes, que foi a única pessoa que teve coragem", afirmou, considerando que "o PSD tem uma grande vantagem sobre o PS: é que nós, apesar do PPE, efetivamente, ter deixado estar cinco, seis, sete anos Orbán, nós sempre defendemos a sua saída."
"O PS ainda hoje está aqui a dizer que: 'Bom, vamos ver se ele sai ou se não sai.' Portanto, o que se pede aos dirigentes do PS no Parlamento Europeu é que façam o que nós fizemos no PSD, que andámos seis anos dentro do PPE a lutar para Orbán sair".
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A delegação Socialista em Estrasburgo emitiu, entretanto, um comunicado a contestar as declarações de Paulo Rangel, que durante a manhã, numa intervenção no plenário, também criticou o S&D e o PS português por não se terem demarcado do SMER e de Robert Fico, após o assassinato de Ján Kuciak.
A delegação do PS afirma que "o deputado Paulo Rangel usou hoje mais uma vez o Parlamento Europeu para fazer acusações graves e falsas contra o PS e os socialistas europeus, a propósito da morte do jornalista eslovaco".
Diz o comunicado que "o deputado do PSD, Paulo Rangel, faltou deliberadamente à verdade, omitindo que o S&D, em que se integram os socialistas portugueses, fez, logo na altura dos factos, em 14 de março de 2018, um comunicado de imprensa de condenação em termos muito claros, em que se dizia: 'É preciso agir e garantir que não ocorram mais atrocidades como esta noutros lugares.'"