May apela ao diálogo para construir acordo e lamenta falta de cooperação de Corbyn
Primeira-ministra britânica fez uma curta declaração em Downing Street. "Mais de dois anos e meio depois, está na altura de nos unirmos, colocarmos o interesse nacional em primeiro lugar e cumprir com o referendo"
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A primeira-ministra britânica, Theresa May, fez na noite desta quarta-feira uma pequena declaração, horas depois de ter "sobrevivido" a uma moção de censura promovida pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn.
À porta do nº 10 de Downing Street, May fez notar que "esta tarde, o Governo conquistou a confiança do Parlamento. Isto dá-nos a oportunidade de nos focarmos em encontrar um caminho para o Brexit. Entendo que para as pessoas que fazem a sua vida longe de Westminster, os eventos das últimas 24 horas terão sido preocupantes. De forma esmagadora, os britânicos querem que continuemos com a construção do Brexit e também que lidemos com os outros assuntos que os preocupam. Mas o acordo que desenvolvi com a União Europeia foi rejeitado, por larga margem, pelos deputados".
A votação não demoveu, no entanto, a vontade da primeira-ministra britânica em alcançar um acordo para o Brexit. "Acredito que é meu dever cumprir com as instruções dos britânicos em deixar a União Europeia e pretendo fazê-lo. Agora que os deputados deixaram claro aquilo que não querem, devemos todos construir, em conjunto, aquilo que o Parlamento quer. É por isso que apelo aos representantes de todos os partidos que se reúnam para encontrarmos um caminho. Um que não só efetive a vontade do referendo como também reúna o apoio do Parlamento. Este é o momento de pôr de lado os interesses pessoais."
"Acabei de ter reuniões construtivas com o líder dos democratas liberais e com os líderes de Westminster. A partir de amanhã, vão ser feitas reuniões entre representantes do Governo - incluindo eu mesma - e representantes com um leque de visões o mais alargado possível, de todo o Parlamento, incluindo os nossos companheiros de coligação unionistas. Lamento que, até ao momento, o líder do Partido Trabalhista tenha escolhido não participar, mas a porta continua aberta", lamentou May, referindo-se a Jeremy Corbyn.
Apesar do "desabafo", May apelou a um acordo. "Não vai ser uma tarefa fácil, mas os deputados sabem que têm o dever de agir em prol do interesse nacional, alcançar um acordo e terminar isto. Numa votação histórica em 2016, o país decidiu sair da UE. Em 2017, 80% das pessoas votou em partidos que promoveram manifestos nos quais prometiam respeitar esse resultado. Agora, mais de dois anos e meio depois, está na altura de nos unirmos, colocarmos o interesse nacional em primeiro lugar e cumprir com o referendo", avisou.
A votação da moção de censura na Câmara dos Representantes, horas antes, tinha sido renhida: 306 deputados votaram a favor enquanto 325 votaram contra, uma diferença de 19 votos.
"O voto de hoje não é sobre o que é melhor para o líder da oposição é sobre o que é melhor para o país", disse Theresa May no final do debate e momentos antes da votação, referindo que uma saída sem acordo não foi aquilo "em que os britânicos votaram".
Esta terça-feira, os deputados britânicos rejeitaram o acordo negociado pelo governo de May para a saída do Reino Unido da União Europeia, numa derrota pesada que contou com 432 votos contra e apenas 202 a favor.
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