Ventura sai de Belém a dizer que Marcelo "não será obstáculo a qualquer participação governamental do Chega"
O Presidente da República recebeu o líder do Chega e a participação, formação ou liderança de um governo por parte do partido em caso de eleições antecipadas foi tema de uma conversa "melindrosa".
Corpo do artigo
O líder do Chega, André Ventura, revelou esta quarta-feira, depois de ter sido recebido pelo Presidente da República em Belém, que Marcelo Rebelo de Sousa "não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do Chega".
Admitindo que esta era a questão "mais melindrosa e mais conflituante" que levava esta tarde a Belém, Ventura quis saber se o chefe de Estado "teria alguma oposição assumida, formal, a que o Chega integrasse um Governo, ou formasse um Governo ou liderasse um Governo".
"Isto é, se o Presidente da República, politicamente, pelos poderes que lhe são conferidos pela Constituição, seria o obstáculo a que o Chega pudesse integrar o executivo em caso de eleições antecipadas", clarificou.
"Embora não uma surpresa", André Ventura assume que, tanto a nível pessoal como para o partido, é "satisfatório e de reconhecimento que o Presidente da República não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do Chega".
"Não será o Presidente da República um obstáculo à construção de um Governo se os partidos políticos aceitarem formar esse Governo, se as bases dos partidos aceitarem, e se houver essa disponibilidade e essa capacidade de formar uma maioria à direita", afirmou.
TSF\audio\2023\04\noticias\19\andre_ventura_1_chega_no_governo
"Este para nós era um dado muito importante, uma vez que, se queremos que haja uma mudança, se queremos uma haja uma dissolução do parlamento, tem que haver aí mesmo tempo uma alternativa, e era importante esclarecer junto do Presidente da República. Embora sempre fosse esse o meu sentimento, de que o Presidente da República não estava contra uma solução política que envolvesse o Chega ou que fosse liderada pelo Chega à direita", afirmou.
O presidente do Chega agradeceu as "palavra claras" de Marcelo Rebelo de Sousa e classificou como "uma atitude responsável".
Questionado se já não acredita que o chefe de Estado obrigou o líder do PSD a dizer que não aceitaria soluções de Governo com o Chega, acusação feita por Ventura na terça-feira, respondeu: "O senhor Presidente da República transmitiu-me de forma clara e direta que nada teve a ver com isso, que a sua posição é esta e que não obstacularizará o Chega no Governo".
"O que faz o líder do terceiro partido nestes casos? Não é inventar nem especular, é vir perguntar. Fui esclarecido e estou satisfeito", disse.
Esta quarta-feira, o Presidente da República recusou qualquer interferência na decisão do PSD de não aceitar acordos de Governo ou ter apoio de "políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas", afirmando que os partidos definem o seu rumo.
"Um presidente nunca interfere em estratégias partidárias. A última coisa que deve fazer é estar a influenciar a eleição de líderes partidários, a estratégia dos lideres partidários, a orientação dos lideres partidários. Não é esse o seu papel", disse Marcelo Rebelo de Sousa, que falava aos jornalistas à margem das comemorações dos 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática, na Universidade de Aveiro.
O chefe de Estado esclareceu ainda que "são os partidos que definem o seu próprio rumo e o presidente deve colocar-se num plano diferente desse".
Na terça-feira, o líder do Chega disse haver uma articulação entre o líder do PSD, Luís Montenegro, e o Presidente da República acusando este último de ter obrigado Montenegro a dizer que com o Chega não haverá acordos de governo.
"O PSD tem de se desamarrar do Presidente da República e perceber o que quer autonomamente", desafiou Ventura, apontando que o "PSD ou quer governar com o PS ou com o Chega".
O presidente do Chega considerou que Marcelo Rebelo de Sousa "é um analista político proeminente, assertivo, claro, e que gosta desse jogo".
Na segunda-feira, numa entrevista à CNN Portugal, o presidente do PSD rejeitou que o partido possa fazer acordos de Governo ou ter o apoio de "políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas", no que foi entendido como uma demarcação do partido de Ventura.