Numa iniciativa inédita em Portugal, a TSF e a Fundação Francisco Manuel dos Santos lançam Sons da História. Um site multimédia e completamente interativo que percorre a história do país e do mundo, nos últimos 30 anos.
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Tem "a consciência tranquila", mas reconhece que não dorme "totalmente descansado." Quase cinco anos depois, Ricardo Salgado olha retrospetivamente para a queda de um dos maiores bancos do país. A resolução do BES foi em 2014 e com ela foram arrastadas várias empresas, ficaram lesados milhares de clientes e os cacos desta hecatombe ainda hoje estão por apanhar.
O banqueiro, a quem em tempos chamaram o dono disto tudo, é, inevitavelmente, um dos protagonistas do novo site que a TSF e a Fundação Francisco Manuel dos Santos apresentam esta semana. Sons da História é um documento digital multimédia e completamente interativo onde estão reunidas as reportagens e os sons de mais de 30 anos de história da TSF.
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Entre eles está, por exemplo, Cavaco Silva. Uma das figuras políticas mais marcantes da história da democracia portuguesa, recorda os momentos mais marcantes dos mandatos como primeiro-ministro: dos "secos e molhados" ao buzinão da Ponte 25 de Abril, a assinatura do tratado de Maastricht ou os acordos de paz em Angola, por exemplo. O ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República recua no tempo para contar os bastidores de cada um destes acontecimentos e fala, pela primeira vez, da relação difícil que sempre manteve com a comunicação social: "A comunicação social nunca gostou muito de mim, ou quase nada." E naquilo que pode ser entendido como uma indireta ao atual Presidente da República, Cavaco garante que nunca atendeu "uma chamada telefónica de um jornalista nem nunca liguei a um jornalista."
Do incêndio do Chiado às guerras mais sangrentas
Olhar para a cobertura noticiosa da TSF nas últimas três décadas, é ficar a conhecer melhor a história do país e do mundo nas últimas três décadas. A começar pela primeira grande emissão em direto, feita por uma rádio portuguesa, do grande incêndio que reduziu a cinzas os Armazéns Grandela, no coração de Lisboa, com os primeiros repórteres no local a relatar em direto uma das maiores tragédias da capital.
Passando pela luta pela independência em Timor. Xanana Gusmão, Ramos Horta e D. Ximenes Belo percorrem a fita do tempo e, com o distanciamento de 28 anos, regressam ao massacre no cemitério de Santa Cruz e explicam a importância que a TSF teve no curso da história de Timor.
Nos últimos 30 anos, como agora, os repórteres e técnicos da TSF foram ao fim da rua e ao fim do mundo, para cumprirem o principal dever do jornalismo: informar. Fizeram-no no conflito na Bósnia - uma das guerras mais sangrentas do velho continente - durante meses. Mas fizeram-no também na guerra do Golfo, pela mão de David Borges, o único repórter português que relatou ao lado da CNN e da BBC, em direto, alguns dos episódios cruciais deste conflito.
Percorrer a história através do som
Trinta anos de História dão muita estória para contar. Dos grandes acontecimentos, dos protagonistas, dos programas que marcaram e mudaram o país. Tantas vezes o mundo.
Sons da História é um mapa das notícias em permanente construção. A TSF e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, na sua missão de aprofundar o conhecimento da realidade portuguesa, oferecem ao país um precioso arquivo histórico de som, de imagem, mas, sobretudo, das estórias que foram mudando o país e o mundo.
Pela memória do Embaixador José Cutileiro, descobre-se o que passava pela cabeça de Nelson Mandela, 15 dias depois da libertação daquele que viria a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul e Prémio Nobel da Paz.
Em Sons da História, o ex-guarda-redes Ricardo voa, desta vez no tempo, ao som do mítico relato de Jorge Perestrelo, até aos penáltis contra a Inglaterra no Euro 2004. Os que defendeu e os que marcou.
Ao país, a TSF e a Fundação Francisco Manuel dos Santos disponibilizam ainda uma playlist de alguns dos programas mais emblemáticos da TSF, como o "Flashback", o "Exame" de Marcelo Rebelo de Sousa, os "Sinais" de Fernando Alves ou o "Humor", uma marca indelével da rádio.
"Não é um documento fechado nem perfeito"
A ideia de criar o Sons da História teve como objetivo "deixar um documento que pudesse não só ser atualizado no futuro como consultado e também ele pedagógico", tanto para as escolas, como para os cursos de comunicação, e para que se ajudasse "a ler estes últimos 30 anos à luz daquilo que foram as prioridades dos acontecimentos de uma rádio como a TSF".
"Não é um documento fechado nem perfeito, nem pretende ser", assegura Arsénio Reis, diretor da TSF, esclarecendo que "não é fechado porque pode ser acrescentada informação sobre os últimos 30 anos, não tem de ser só sobre os próximos... está de facto em aberto, está sujeito a contributos, da própria comunidade escolar se achar que pode contribuir".
O documento cruza o manancial de informação que a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Pordata têm sobre o país e o mundo nos últimos 30 anos com aquela que foi a cobertura a que a TSF deu particular atenção nestes últimos 30 anos.
Um "livro em aberto"
É uma "espécie de um livro em aberto" em que se encontraram "soluções interessantes em termos digitais" e onde foi possível "recuperar uma parte interessante do arquivo da própria rádio".
Arsénio Reis está "orgulhoso" do que foi conseguido neste Sons da História, mas também com a "parceria com a Fundação e pela forma como ela decorreu". "Todos acabámos por reviver estes 30 anos graças a um trabalho complicado, com dificuldades, mas que acho que tem um resultado que pode ser muito útil", admitiu.
Num momento de mudança, o diretor da TSF frisou ainda que esta "é mais uma prova de que o básico do jornalismo, por muito que sejam ofuscadas pela evolução tecnológica que se tem registado nos últimos 30 anos, é aquilo que nos princípios e nos seus valores continuam hoje a contar".
"Um serviço público"
David Lopes, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, recorda que a proposta da TSF foi recebida "com muito entusiasmo desde o primeiro dia porque é uma oportunidade extraordinária poder celebrar os 30 anos da TSF e os 10 anos da Fundação, em simultâneo e com um conteúdo que é comum".
"Estes Sons da História vão permitir a todos os portugueses reencontrar momento únicos da sua História contemporânea e ouvi-los as vezes que entenderem. É uma forma de construirmos algo que é também, para as duas instituições, um serviço público.
O responsável recorda que houve momentos de emoção a ouvir acontecimentos nacionais e internacionais, principalmente porque a "paixão pela voz e pelo som" é um ponto de união entre a TSF e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
"Fica para a História"
"Esta parceria fica para a História presente e futura. Agora temos, ambas as marcas, a responsabilidade de atualizar este acervo único, este registo da nossa história e que nos pode e deve acompanhar", concluiu.
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