Democracia "não aguenta tudo". Lobo Xavier e Pacheco Pereira criticam declarações de Costa
As declarações de António Costa estiveram em destaque no programa O Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal.
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Após as declarações do primeiro-ministro demissionário ao país, José Pacheco Pereira considera que Portugal vive "um ambiente completamente venenoso da vida pública portuguesa" e alerta que a democracia "não aguenta tudo", enquanto António Lobo Xavier aponta que António Costa "tem um dever de contenção". No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal, Alexandra Leitão admite que o "timing" pode ser discutível, mas sublinha que as referências feitas são "muito importantes".
"Nós estamos num ambiente completamente venenoso da vida pública portuguesa. Nós estamos na realidade a ser governados em regime de anarquia, eu penso que os anarquistas, se olharem com atenção, ficam contentes. Nós estamos num ambiente próximo do de Itália antes da desagregação do conjunto do sistema político italiano e que deu origem à situação que conhecemos hoje e a ideia de que a democracia aguenta tudo não é verdadeira. Não aguenta tudo", avisa Pacheco Pereira.
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Lamentando a situação que o país enfrenta, Pacheco Pereira afirma que só há uma forma de a democracia portuguesa aguentar os acontecimentos dos últimos dias: "É o Ministério Público levar a tribunal provas sólidas contra o primeiro-ministro e contra todos os outros e eles serem condenados em tribunal. É a única forma pela qual a democracia sobrevive sem grandes danos ao que se está a passar."
O primeiro-ministro afirmou este sábado que o dinheiro encontrado em envelopes no escritório do seu ex-chefe de gabinete Vítor Escária lhe suscitou mágoa pela confiança traída, envergonhou-o, e pediu desculpa aos portugueses.
António Costa falou à hora dos telejornais, a partir da sua residência oficial, em São Bento, uma agenda que Lobo Xavier, do CDS, considera inaceitável.
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"O primeiro-ministro apresentou a sua demissão pelas razões por que a apresentou e tem um dever de contenção e o que fez foi fazer uma intervenção nacional no horário das televisões no Palácio de São Bento, uma intervenção institucional que, no seu conjunto, - eu não faço divisões formais entre a intervenção inicial e a resposta às perguntas - foi sobre o processo totalmente", afirma.
O também conselheiro de Estado alerta que "boa parte das respostas" do chefe do Executivo são "as respostas que ele teria que dar ao Supremo Tribunal de Justiça, se ali fosse interrogado no decurso do inquérito que está a decorrer".
"Isto é inaceitável para um jurista, para um ex-advogado, para um homem de quem eu aprendi muitas das coisas que digo sobre a separação de poderes", destaca.
Já Alexandra Leitão, antiga ministra socialista, entende que as referências à Operação Influencer foram mínimas e reconhece a possibilidade de que Costa não saberia do dinheiro escondido no gabinete de Vítor Escária.
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"Eu acredito totalmente que o primeiro-ministro não sabia, não seria normal que soubesse e é normal também que se sinta traído. E foi isso que ele disse e pediu desculpa, apesar de a sua responsabilidade aqui ser, enfim, não sabendo, mas escolheu aquele chefe de gabinete e, com grande sinceridade e dignidade, pede desculpa por isso e aí há uma alusão ao processo", defende, acrescentando igualmente que "as restantes referências", ainda que o seu timing possa ser "discutido", "são muito importantes de se fazer".