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Boa tarde. Quase dois meses depois, o país voltou a sair à rua. Parte dele, pelo menos. Falar em regresso à normalidade seria um claro exagero, já que nada por estes dias parece normal. O desconfinamento começou, ainda muito devagar, e a "guilhotina" de um regresso ao passado recente permanece. Eis o filme do primeiro dia do estado de calamidade, a começar nos números mais recentes da pandemia.
Os números mais recentes
Morreram mais 20 pessoas em Portugal nas últimas 24 horas. O número de óbitos subiu assim para 1.063, enquanto o número de infetados é agora de 25.524.
Em Espanha são já dois dias consecutivos com um registo de óbitos inferior a 200. O número de infetados também está a crescer menos e, por isso, o Governo espanhol decidiu iniciar o alívio de algumas medidas, prolongando, ainda assim, por mais duas semanas do estado de emergência. Só neste fim de semana, o primeiro sem algumas restrições, foram detidas em Espanha mais de 230 pessoas por desrespeito das regras.
Quem também quer começar a reabrir a economia aos poucos é Boris Johnson, que anunciou um plano para fim do confinamento. O Reino Unido registou mais 288 mortes nas últimas 24 horas, aumentando assim o número de óbitos para os 28.734. Ainda assim, este foi o número diário mais baixo desde março.
Na Alemanha, este é o terceiro dia consecutivo com menos de mil novos casos e mais de 130 mil pessoas já recuperaram da doença.
A Bélgica ultrapassou a barreira dos 50 mil casos confirmados, ainda que o número diário de infetados esteja a baixar.
Do lado de lá do Atlântico, o Brasil totaliza já 7.025 mortes por Covid-19 e ultrapassou os 100 mil infetados.
Nos Estados Unidos contabilizam-se 67.674 óbitos - só nas últimas 24 horas morreram mais 1.450 pessoas. Donald Trump voltou a fazer um dos seus famosos vaticínios e prometeu uma vacina até ao final do ano.
Em França, um estudo médico detetou o novo coronavírus ainda no final de dezembro. Terá sido o princípio da propagação da doença, a partir de uma mulher assintomática que terá contagiado o marido e os dois filhos.
O que se passa no terreno
Hoje pode ser o primeiro dia do resto do desconfinamento. Depois do estado de emergência, Portugal entrou oficialmente no estado de calamidade - o que, na prática, se traduz na reabertura de algum comércio e no regresso ao trabalho de muitos portugueses.
Os primeiros sinais de abertura da economia não dispensam, no entanto, cuidados extra de saúde pública. Nos transportes públicos, por exemplo, é obrigatório, a partir desta segunda-feira, o uso de máscara e há limitação de lugares.
As ações de sensibilização sucederam-se, com vários ministros na rua - de máscara na cara -a apelar aos portugueses para uma atitude responsável daqui para a frente.
Não usar máscara pode, na realidade, dar direito a multa e no caso dos transportes públicos é ao Instituto de Mobilidade Territorial que compete aplicar essas coimas que podem chegar aos 350 euros.
Já agora, não se esqueça de que os títulos de transporte voltam a ter de ser validados.
Ainda a propósito de máscaras, a Ordem dos Médicos sugere ao Governo que monte uma campanha nacional para explicar aos portugueses como se deve usar a máscara. É que, aparentemente, ainda há muita gente que não o sabe fazer.
E a Direção-Geral de Saúde volta a alertar que usar máscara, por si só, não nos defende da Covid-19. É preciso continuar a ter outros cuidados.
Da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade chega mais um apelo: "Os idosos precisam de ver um sorriso." O presidente desta confederação quer que os lares voltem a receber visitas a partir de 18 de maio.
Os educadores de infância estão preocupados com as dificuldades que vão ter em conseguir manter a distância social com crianças tão pequenas. Por isso, no Algarve, no Baixo Alentejo e no Litoral Alentejano já começaram a ser feitos testes para preparar o regresso das crianças. A reportagem é da Maria Augusta Casaca.
Uma farmacêutica suíça anunciou um teste serológico com 100% de sensibilidade.
O que a política está a fazer...
A gestão que António Costa está a fazer desta crise está a trazer-lhe dividendos políticos. A mais recente sondagem da Pitagórica para a TSF e para o JN mostra que 74% dos inquiridos aprovam a forma de governar do primeiro-ministro. É um novo recorde.
Costa que anunciou hoje 10 milhões de euros de contribuição nacional para investigação global na busca por uma vacina. Dinheiro que se junta aos mil milhões de euros que vêm de Bruxelas, numa campanha lançada esta segunda-feira pela Comissão Europeia que ambiciona chegar aos 7,5 mil milhões de euros.
O Presidente da República dedicou o dia aos meios de comunicação social. Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se com os presidentes dos principais grupos de media e mostrou-se preocupado com o futuro do setor. O Presidente da RTP - um dos que foram ouvidos pelo Presidente da República - garantiu que a empresa pública está a cumprir a integração dos precários.
Antes destas audições, Marcelo deixou elogios à Igreja Católica pela forma como está a planear o 13 de maio e deu umas bicadas à CGTP pela forma como decorreram as celebrações do 1º de Maio. O Presidente da República diz que estava à espera de uma coisa mais simbólica.
Ah, é verdade, Marcelo Rebelo de Sousa também relatou hoje o telefonema que recebeu de Donald Trump. Aparentemente, o presidente americano quis perceber como é que Portugal está a ter tão bons resultados na luta contra a Covid-19.
Depois de tanta polémica com o uso de máscara nas cerimónias do 25 de abril, Ferro Rodrigues decidiu agora que a máscara vai passar a ser obrigatória no Parlamento.
... e como tudo isto mexe com a economia
O líder do G20 lançou um desafio aos credores privados para que participem no perdão de dívida dos países mais pobres.
Entretanto, a Expo no Dubai foi adiada para 2021 por causa da pandemia e Portugal já admite que vai cortar no investimento previsto para o evento.
Em crise, como quase todos os setores, um grupo de músicos, atores, escritores, bailarinos e artistas de circo subscreveu um manifesto em defesa da cultura que já vai com quase 250 mil assinaturas.
No futebol também não se vivem dias fáceis. O presidente da Federação escreveu hoje um artigo de opinião com um alerta muito sério: o "futuro do futebol não está garantido."
Em Inglaterra, por exemplo, a federação inglesa não espera ter adeptos no estádio tão cedo.
Informações que lhe podem ser úteis
Para quem gosta de futebol e já está a "ressacar", são boas notícias. O FC Porto e o Benfica regressaram ao trabalho, depois de a Liga de Clubes ter suspendido o campeonato a 12 de março por tempo indeterminado. Os jogos oficiais só devem regressar lá para o final do mês, mas Bruno Laje, treinador do Benfica, admite que o regresso aos treinos era muito desejado por todos.
Se esteve infetado com a Covid-19 e conseguiu recuperar, então preste atenção a esta notícia: o seu sangue pode ser fundamental para salvar vidas. Os ensaios clínicos feitos têm apresentado resultados muito animadores.
Já agora, fique também a saber que um grupo de investigadores holandeses acredita ter encontrado um anticorpo capaz de travar a Covid-19.
Entretanto, o Centro Europeu de Controlo de Doenças está convencido de que o pico da vaga inicial da pandemia já terá sido superado em quase toda a Europa.
E não se preocupe com as multas de estacionamento em Lisboa: a EMEL vai continuar sossegadinha durante mais algum tempo.
Sugerimos ainda que...
A opinião hoje tem assinatura do Pedro Tadeu e é ainda sobre a polémica do 1.º de Maio.
E se não ouviu, ainda vai a tempo: este fim de semana reuniu o Governo Sombra. "Esférico, impedido e febril", é assim que se sentem o Pedro Mexia, o Ricardo Araújo Pereira e o João Miguel Tavares.
A Teresa Dias Mendes traz-nos hoje "comportamentos para um mundo melhor", em mais um "Sem medo do medo".
Os "Sinais" do Fernando Alves procuram "um nome para o filho de Sereia".
E, claro, temos sempre o Bruno Nogueira e o João Quadros para nos fazerem rir, mesmo em tempo de pandemia. "Regresso ao cabeleireiro" é o o título de mais um "Tubo de Ensaio".
Até amanhã.